segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Brendan Hansen: “a natação é um esporte brutalmente honesto”
BY RCORDANI on 7 DE OUTUBRO DE 2013 ( 12 )
(Claudio Martino é um brasileiro que mora nos EUA e cujos filhos moram, estudam e nadam em Northampton – Texas. Leitor assíduo do blog, ele me mandou um email com essa história que achei muito legal compartilhar aqui com vocês. Eu volto com algumas opiniões no primeiro comentário.)
Por Claudio Martino.
A Clínica Olímpica realizada pelo time Swim Streamline of Northampton, ocorrida em 28 de setembro de 2013, é uma combinação da dedicação do corpo técnico da equipe com uma iniciativa da USA Swim de trazer grandes ídolos da natação aos times de base espalhados pelo país, visando oferecer uma rara chance aos jovens nadadores de poderem conhecer um pouco da carreira e da vida pessoal de grandes atletas olímpicos. Desta vez, o convidado foi o super nadador (e grande comunicador), Brendan Hansen (3 ouros, 2 pratas e um bronze olímpicos, ao longo de 3 Olimpíadas: 2004, 2008 e 2012). O time organiza esse tipo de evento pelo menos uma vez por ano, de forma que os jovens nadadores possam crescer em contato com a elite de nadadores dos Estados Unidos. Nesse aspecto, fico muito feliz em poder compartilhar com os colegas deste post, a experiência única que meus dois filhos mais velhos, Henrique e Patrick (dois jovens nadadores brasileiros/americanos), respectivamente com 12 e 10 anos, tiveram ao participar deste evento.

Brendan Hansen na piscina com os jovens atletas.

Ao longo das 4 horas de duração do evento, Brendan deu inúmeras dicas e contou detalhes de sua carreira e de sua vida pessoal, sempre focando em motivar os nadadores mais jovens. Seguem abaixo alguns dos tópicos abordados por esse excepcional atleta:


1) Até os 14 anos, ele não era bom em nenhum esporte, incluindo a natação. Num esforço para descobrir uma forma de atrair a atenção de uma menina que nadava pelo time da escola dele, ele se inscreveu no time de natação. Na primeira competição, ele levou um grande “quibe” de todo mundo de seu time e ficou profundamente decepcionado com o seu resultado. Aí ele soltou a sua primeira grande frase de impacto. Ele disse que: “a diferença entre nadadores como Michael Phelps, Josh Davis, Rayan Lochte, etc.. (incluindo ele, obviamente), e os outros nadadores é que eles detestam muito mais perder uma competição do que eles gostam de ganhar”. Então, a motivação deles vem dos aprendizados obtidos durante provas em que ele tem resultados ruins e, não das boas provas. Ele continuou dizendo que logo após uma prova com um resultado ruim, ao invés de sair chorando e pensando em desistir, ele sempre ia direto ao técnico perguntar o que tinha que fazer para melhorar, anotava as dicas lá mesmo no deck da piscina para não esquecer nada e focava nesses pontos a partir do próximo treino.
2) Outra grande frase: “A natação é um esporte brutalmente honesto, não é como o futebol (Americano) em que de repente uma bola cai na sua mão e só o que você precisa fazer é sair correndo…. No caso da natação, você consegue o resultado que quiser em função de quanto você se empenhar nos treinos.” Ele seguiu dizedo que aquela sensação ruim de perder acompanhava ele em cada treino. Então, ele tinha que sempre liderar a raia e fazia de tudo para “ganhar” todo treino, fazendo 100% do que os técnicos pediam e mais rápido do que os outros nadadores do time.
3) Ele seguiu dizendo para esquecer essa história de talento na natação. Se fosse para acreditar nesse “mito”, ele nunca teria chegado aonde chegou. Segundo Brendan, um eventual talento poe até ajudar no início da carreira, mas o grande desenvolvimento de qualquer nadador de elite vem do trabalho duro, ao longo de anos de dedicação aos treinamentos e, principalmente, sempre ouvindo os conselhos dos técnicos, pois eles conseguem ver falhas e pontos para aperfeiçoamento bem além do que o atleta pode. Ele completou dizendo que ao longo de nossas vidas sempre vão haver mais pessoas dizendo que não podemos alcançar nossas metas do que pessoas apoiando nosso esforço. Normalmente, nossos maiores incentivadores serão nossos pais e técnicos, principalmente quando temos que faltar a uma festa, ou deixar de viajar ou passear com amigos para ficar treinando. São justamente nossos amigos (fora da natação) que mais nos incentivam direta ou indiretamente a desisitir de nossas metas de longo prazo para aproveitarem o curto prazo. Porém, assim que começam a aparecer os resultados bons em função da dedicação aos treinos, novos amigos aparecerão e não só entenderão mas irão suportar a eventual falta de disponibilidade do nadador em função de seus treinos.
4) “Sempre vai haver alguem mais alto ou forte do que você, e isso não quer dizer nada. O que realmente importa é “streamline” (não sei a tradução mas tenho certeza que vocês conhecem o termo) e manter uma técnica apurada”. E ele deu seu próprio exemplo, já que no máximo ele tem 1.80 m de altura e chegou aonde chegou…


5) É extremamente importante escrever metas em um lugar de fácil acesso e que vejamos constantemente. Isso vai entrando no cérebro aos poucos e ajuda a tornar uma meta impossivel em possível. Ele sempre escreveu suas metas no espelho de seu banheiro, com o batom de sua mãe. Assim, lia as metas no mínimo duas vezes por dia, ao acordar e ao ir dormir (por sinal, outros nadadores olímpicos que vieram ao nosso time anteriormente falaram exatamente a mesma coisa. A Misty Hyman, por exemplo, escrevia as metas dela no teto do seu quarto para olhar da cama).
6) O ponto de virada na vida dele, quando realmente decidiu tentar as olimpíadas foi em 2000, quando aos 18 anos nadou as eliminatórias olimpicas quando era rankeado acima do vigésimo colocado (acho que 22 ou 23). Nas eliminatórias dos 100 peito ficou em terceiro lugar. Foi para a final pensando: “agora só falta vencer um e carimbo o passaporte” (aqui nos EUA, vão para as Olimpíadas apenas o primeiro e o segundo em cada modalidade). Foi para a final e…. ficou em terceiro de novo….Logo em seguida vieram as eliminatórias dos 200 peito e, de novo, 3o lugar na eliminatória e na final.
Em resumo, e para piorar, ele ficou fora das Olimpíadas nos 100 peito por 0.01 segundos e dos 200 peito por 0.10 segundos.
Nesse momento ele escreveu sua nova meta (de novo com o batom de sua mãe no espelho de seu banheiro), que iria conseguir um ouro olímpico e passou a treinar com esse foco. Em apenas 12 meses, e com 19 anos, ele foi de terceiro colocado nas eliminatórias olímpicas para campeão mundial no Japão. A partir daí, conhecemos sua saga, incluindo 6 medalhas em 3 olimpíadas (3 ouros, duas pratas e um bronze) e alguns recordes mundias. Ele acredita que seguramente não teria as medalhas que tem ao longo de 3 olimpíadas (2004, 2008 e 2012), se tivesse se classificado para as Olimpíadas de 2000.
7) Alimentação: De uma forma muito simplista (para as crianças), ele sugeriu que o prato básico de qualquer nadador deva ser composto por: 50% de qualquer item verde, 25% de proteínas (como carnes) e 25% de carbohidratos (como arroz ou batata). Antes de uma competição, jamais ingerir alimentos ricos em açucar. No caso dele, ele tem uma pequena superstição: antes de competir ele come um prato de “oatmeal”. Perguntaram sobre o por quê, e ele disse: Por que uma vez comi oatmeal antes da competição e … bati o recorde mundial… a partir daí, passei a comer oatmeal sempre antes de competir.
8) Ele finalizou sua apresentação dizendo que o Michael Phelps, do auge de sua carreira, quando já era considerado o maior fenomeno recente da natação e estava se preparando para as olimpíadas de 2008, reconhecendo que peito era o seu pior estilo, ligava para ele todo dia sem excessão, por um periodo de 7 a 8 meses relatando como tinham sido seus treinos de peito e perguntando se o que tinha feito estava certo e o que poderia fazer para melhorar…. Então, o Brendan concluiu sua apresentação dizendo que se o maior nadador de todos os tempos é humilde o suficiente para te ligar e pedir dicas, então todos nós temos que sempre manter a cabeça aberta para continuamente nos aperfeiçoarmos. Após a palestra, ele foi para a piscina com todos os nadadores do time, e deu uma breve sequência de dicas para cada um dos 4 estilos, dando a chance a todos os nadadores de repetirem suas series e serem avaliados por ele. Ao final, ele “competiu” contra todos os nadadores do time, nadando umas 20 baterias de 25 jardas em seguida, sempre dando de 2 a 3 segundos de vantagem aos jovens nadadores.




Como pai e amante da natação, relato que notar a sensação de um jovem nadador ao receber instruções e depois subir no bloco para largar contra um campeão olímpico é impagável e inigualável. Estou seguro que esse evento servirá como motivação por muitos anos por vir se meus filhos optarem por seguirem na carreira da natação e sei que alguns dos ensinamentos do Brendan continuarão pelo resto de suas vidas, como também da minha


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