Brendan Hansen: “a natação é um esporte brutalmente honesto”
(Claudio
Martino é um brasileiro que mora nos EUA e cujos filhos moram, estudam e nadam
em Northampton – Texas. Leitor assíduo do blog, ele me mandou um email com essa
história que achei muito legal compartilhar aqui com vocês. Eu volto com
algumas opiniões no primeiro comentário.)
Por
Claudio Martino.
A Clínica Olímpica realizada pelo time Swim
Streamline of Northampton, ocorrida em 28 de setembro de 2013, é uma combinação
da dedicação do corpo técnico da equipe com uma iniciativa da USA Swim de
trazer grandes ídolos da natação aos times de base espalhados pelo país,
visando oferecer uma rara chance aos jovens nadadores de poderem conhecer um
pouco da carreira e da vida pessoal de grandes atletas olímpicos. Desta vez, o
convidado foi o super nadador (e grande comunicador), Brendan Hansen (3 ouros,
2 pratas e um bronze olímpicos, ao longo de 3 Olimpíadas: 2004, 2008 e 2012). O
time organiza esse tipo de evento pelo menos uma vez por ano, de forma que os
jovens nadadores possam crescer em contato com a elite de nadadores dos Estados
Unidos. Nesse aspecto, fico muito feliz em poder compartilhar com os colegas
deste post, a experiência única que meus dois filhos mais velhos, Henrique e
Patrick (dois jovens nadadores brasileiros/americanos), respectivamente com 12
e 10 anos, tiveram ao participar deste evento.
Brendan
Hansen na piscina com os jovens atletas.
Ao longo das 4 horas de duração do evento, Brendan
deu inúmeras dicas e contou detalhes de sua carreira e de sua vida pessoal,
sempre focando em motivar os nadadores mais jovens. Seguem abaixo alguns dos
tópicos abordados por esse excepcional atleta:
1) Até os 14 anos, ele não era bom em nenhum
esporte, incluindo a natação. Num esforço para descobrir uma forma de atrair a
atenção de uma menina que nadava pelo time da escola dele, ele se inscreveu no
time de natação. Na primeira competição, ele levou um grande “quibe” de todo
mundo de seu time e ficou profundamente decepcionado com o seu resultado. Aí
ele soltou a sua primeira grande frase de impacto. Ele disse que: “a diferença
entre nadadores como Michael Phelps, Josh Davis, Rayan Lochte, etc.. (incluindo
ele, obviamente), e os outros nadadores é que eles detestam muito mais perder
uma competição do que eles gostam de ganhar”. Então, a motivação deles vem dos
aprendizados obtidos durante provas em que ele tem resultados ruins e, não das
boas provas. Ele continuou dizendo que logo após uma prova com um resultado
ruim, ao invés de sair chorando e pensando em desistir, ele sempre ia direto ao
técnico perguntar o que tinha que fazer para melhorar, anotava as dicas lá
mesmo no deck da piscina para não esquecer nada e focava nesses pontos a partir
do próximo treino.
2) Outra grande frase: “A natação é um esporte
brutalmente honesto, não é como o futebol (Americano) em que de repente uma
bola cai na sua mão e só o que você precisa fazer é sair correndo…. No caso da
natação, você consegue o resultado que quiser em função de quanto você se
empenhar nos treinos.” Ele seguiu dizedo que aquela sensação ruim de perder
acompanhava ele em cada treino. Então, ele tinha que sempre liderar a raia e
fazia de tudo para “ganhar” todo treino, fazendo 100% do que os técnicos pediam
e mais rápido do que os outros nadadores do time.
3) Ele seguiu dizendo para esquecer essa história
de talento na natação. Se fosse para acreditar nesse “mito”, ele nunca teria
chegado aonde chegou. Segundo Brendan, um eventual talento poe até ajudar no
início da carreira, mas o grande desenvolvimento de qualquer nadador de elite
vem do trabalho duro, ao longo de anos de dedicação aos treinamentos e,
principalmente, sempre ouvindo os conselhos dos técnicos, pois eles conseguem
ver falhas e pontos para aperfeiçoamento bem além do que o atleta pode. Ele
completou dizendo que ao longo de nossas vidas sempre vão haver mais pessoas
dizendo que não podemos alcançar nossas metas do que pessoas apoiando nosso
esforço. Normalmente, nossos maiores incentivadores serão nossos pais e
técnicos, principalmente quando temos que faltar a uma festa, ou deixar de
viajar ou passear com amigos para ficar treinando. São justamente nossos amigos
(fora da natação) que mais nos incentivam direta ou indiretamente a desisitir
de nossas metas de longo prazo para aproveitarem o curto prazo. Porém, assim
que começam a aparecer os resultados bons em função da dedicação aos treinos,
novos amigos aparecerão e não só entenderão mas irão suportar a eventual falta
de disponibilidade do nadador em função de seus treinos.
4) “Sempre vai haver alguem mais alto ou forte do
que você, e isso não quer dizer nada. O que realmente importa é “streamline”
(não sei a tradução mas tenho certeza que vocês conhecem o termo) e manter uma
técnica apurada”. E ele deu seu próprio exemplo, já que no máximo ele tem 1.80
m de altura e chegou aonde chegou…
5) É extremamente importante escrever metas em um
lugar de fácil acesso e que vejamos constantemente. Isso vai entrando no
cérebro aos poucos e ajuda a tornar uma meta impossivel em possível. Ele sempre
escreveu suas metas no espelho de seu banheiro, com o batom de sua mãe. Assim,
lia as metas no mínimo duas vezes por dia, ao acordar e ao ir dormir (por
sinal, outros nadadores olímpicos que vieram ao nosso time anteriormente
falaram exatamente a mesma coisa. A Misty Hyman, por exemplo, escrevia as metas
dela no teto do seu quarto para olhar da cama).
6) O ponto de virada na vida dele, quando realmente
decidiu tentar as olimpíadas foi em 2000, quando aos 18 anos nadou as
eliminatórias olimpicas quando era rankeado acima do vigésimo colocado (acho
que 22 ou 23). Nas eliminatórias dos 100 peito ficou em terceiro lugar. Foi
para a final pensando: “agora só falta vencer um e carimbo o passaporte” (aqui
nos EUA, vão para as Olimpíadas apenas o primeiro e o segundo em cada
modalidade). Foi para a final e…. ficou em terceiro de novo….Logo em seguida
vieram as eliminatórias dos 200 peito e, de novo, 3o lugar na eliminatória e na
final.
Em resumo, e para piorar, ele ficou fora das
Olimpíadas nos 100 peito por 0.01 segundos e dos 200 peito por 0.10 segundos.
Nesse momento ele escreveu sua nova meta (de novo
com o batom de sua mãe no espelho de seu banheiro), que iria conseguir um ouro
olímpico e passou a treinar com esse foco. Em apenas 12 meses, e com 19 anos,
ele foi de terceiro colocado nas eliminatórias olímpicas para campeão mundial
no Japão. A partir daí, conhecemos sua saga, incluindo 6 medalhas em 3
olimpíadas (3 ouros, duas pratas e um bronze) e alguns recordes mundias. Ele
acredita que seguramente não teria as medalhas que tem ao longo de 3 olimpíadas
(2004, 2008 e 2012), se tivesse se classificado para as Olimpíadas de 2000.
7) Alimentação: De uma forma muito simplista (para
as crianças), ele sugeriu que o prato básico de qualquer nadador deva ser
composto por: 50% de qualquer item verde, 25% de proteínas (como carnes) e 25%
de carbohidratos (como arroz ou batata). Antes de uma competição, jamais
ingerir alimentos ricos em açucar. No caso dele, ele tem uma pequena
superstição: antes de competir ele come um prato de “oatmeal”. Perguntaram
sobre o por quê, e ele disse: Por que uma vez comi oatmeal antes da competição
e … bati o recorde mundial… a partir daí, passei a comer oatmeal sempre antes
de competir.
8) Ele finalizou sua apresentação dizendo que o
Michael Phelps, do auge de sua carreira, quando já era considerado o maior
fenomeno recente da natação e estava se preparando para as olimpíadas de 2008,
reconhecendo que peito era o seu pior estilo, ligava para ele todo dia sem
excessão, por um periodo de 7 a 8 meses relatando como tinham sido seus treinos
de peito e perguntando se o que tinha feito estava certo e o que poderia fazer
para melhorar…. Então, o Brendan concluiu sua apresentação dizendo que se o
maior nadador de todos os tempos é humilde o suficiente para te ligar e pedir
dicas, então todos nós temos que sempre manter a cabeça aberta para
continuamente nos aperfeiçoarmos. Após a palestra, ele foi para a piscina com
todos os nadadores do time, e deu uma breve sequência de dicas para cada um dos
4 estilos, dando a chance a todos os nadadores de repetirem suas series e serem
avaliados por ele. Ao final, ele “competiu” contra todos os nadadores do time,
nadando umas 20 baterias de 25 jardas em seguida, sempre dando de 2 a 3
segundos de vantagem aos jovens nadadores.
Como pai
e amante da natação, relato que notar a sensação de um jovem nadador ao receber
instruções e depois subir no bloco para largar contra um campeão olímpico é
impagável e inigualável. Estou seguro que esse evento servirá como motivação
por muitos anos por vir se meus filhos optarem por seguirem na carreira da
natação e sei que alguns dos ensinamentos do Brendan continuarão pelo resto de
suas vidas, como também da minha
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